O "Tratamento da Doença de Alzheimer: Opções Actuais e Perspectivas Futuras" foi o tema da comunicação de Alexander Kurz, no 4º Almoço Debate no Parlamento Europeu, ocorrido a 16 de Setembro. Alexander Kurz é Professor de Psiquiatria e Director do Centro de Doenças Cognitivas no Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.
O Professor Alexander Kurz iniciou a sua intervenção referindo que a Doença de Alzheimer será cada vez mais comum, conforme o envelhecimento da população e com o aumento da esperança de vida (desde 1901 teve um acréscimo de 35 anos) o que fará com que a incidência da doença de Alzheimer duplique em 2050.
Na Doença de Alzheimer existe uma acumulação no cérebro de duas proteínas: Beta-Amilóide e Tau. Contudo, a sequência de eventos que conduzem à doença de Alzheimer é um processo muito complicado e que causa muito mais do que um excesso de produção de proteína. Apesar de as pessoas com demência não se aperceberem, inicialmente, que têm a doença, verifica-se uma perda gradual das suas capacidades que dura, aproximadamente, um período de 9 anos. A doença em si terá uma duração de cerca de 20 anos, pois as mudanças fisiológicas no cérebro precedem o aparecimento de sintomas, começando por se verificarem alterações fisiológicas no córtex entorrinal, evoluindo para o hipocampo, altura em que alguns sintomas podem despoletar. Segundo Alexander Kurz, só quando a doença alastra para o córtex frontal, temporal e parietal é que os sintomas se tornam evidentes. A demência será, portanto, o ultimo estádio do processo da doença de Alzheimer.
Os actuais tratamentos com medicação têm como fim restaurar os déficits encontrados nas "comunicações" que ocorrem a nível cérebral tendo uma intervenção limitada na sua magnitude e duração, uma vez que os efeitos são, habitualmente, benéficos somente por um período limitado de tempo.
Alexander Kurz acredita que os medicamentos actuais são eficazes mas fazem apenas um desvio na progressão da doença e não um atraso no seu desenvolvimento.
Existem, actualmente, provas de que os tratamentos psicológicos, a estimulação cognitiva e o apoio dos cuidadores, podem ter efeitos muito positivos, mas, é necessário adequar os programas e apoios individualmente, visto que cada pessoa tem as suas características e necessidades próprias que deverão ser tidas em conta e acima de tudo respeitadas.
Na opinião de Alexander Kurz os tratamentos devem ter um início precoce em pessoas consideradas em risco de desenvolver a doença ou que apresentem já alguns sintomas, numa tentativa de prevenir a transição para a demência.
O objectivo é de prevenir a demência no seu todo, impedindo que os doentes nunca cheguem ao estado de demência.
Algumas das investigações recentes têm obtido diferentes resultados. Umas revelaram-se decepcionantes: estudos mais alargados falharam na confirmação dos estudos iniciais (exemplo: anti-inflamatórios não esteróides, inibidores da secretase, agentes redutores de lípidos e estudos de imunização de amilóide). Outras parecem ser encorajadoras, por exemplo, medicação dirigida à proteína Beta-amilóide como a bapineumumab; compostos nutricionais utilizando uma combinação de vitaminas e ácidos gordos e a anti-estamina conhecida como dimebon. No entanto, todos carecem de maior pesquisa. Alexander Kurz considera que, hoje em dia, as medicações existentes não previnem o desenvolvimento da demência e que nos próximos 5 anos não se esperam resultados rápidos nas investigações. Questões éticas e económicas, o sofrimento dos doentes e o esforço extra dos cuidadores, têm de ser considerados no desenvolvimento de futuros tratamentos.
A forma de lidar com as expectativas, das pessoas com doença de Alzheimer, geradas pelas inúmeras "descobertas milagrosas", divulgadas pelos media, e a gestão das esperanças reais de que as investigações poderão trazer novos tratamentos foram algumas das questões lançadas por Jean Georges (Director Executivo da Alzheimer Europe).
Alexander Kurz explicou que apesar de acreditar que existirão novos e melhores tratamentos, os mesmos só deverão estar disponíveis nos próximos 2 a 3 anos. Estas "descobertas milagrosas", dos media, poderão ser explicadas pela necessidade de que alguma imprensa tem em lançar títulos sensacionalistas com o intuito de aumentar as vendas das suas publicações. O Professor Kurz lembrou, ainda, que as pessoas com demência além de desejarem obter uma espécie de "comprimido mágico" precisam, sobretudo, de ajuda para resolver os problemas e dificudades com que se deparam todos os dias.
Outra questão interessante foi levantada por Jennifer Johnson (Assessora do Membro do Parlamento Europeu, da República Eslovaca) para apurar se a doença de Alzheimer poderá ser diagnosticada, com precisão, ainda em vida. Para o Professor Kurz é já possível obter um diagnóstico com 95% de precisão em alguns centros especializados, apoiados por sintomas clínicos da doença, testes de laboratório e TACS cerebrais.
Com o aumento da esperança de vida espera-se que quase 40% da população venha a ter doença de Alzheimer. O Dr Sigurd Sparr (Membro da Direcção da Alzheimer Europe, Noruega) pediu a opinião do Professor Kurz relativamente à possibilidade de se atrasar a demência, através da identificação de factores de risco. O Professor Kurz reconheceu que para além do hipotireoidismo, depressão e traumatismos cranianos, nenhum novo factor foi descoberto e outros factores de riscos têm-se revelado pouco relevantes. À prevenção deverá ser dada a maior importância, bem como ao acompanhamento das doenças vasculares, que, não raramente, passam despercebidas nos diagnósticos.