outubro 06, 2007

Tudo começou...


Há 7 anos. Tinhas então 59 de idade. Toda a gente te achava ainda nova e vigorosa. Ocupavas grande parte dos teus dias a dar aulas, o que sempre fizeste com facilidade e prazer. Os alunos eram a principal motivação da tua existência. Todos eles te achavam a melhor professora. Em cada um que revias, reencontravas um amigo. Abraços, beijos, recordações, sorrisos...

Nesse ano tinhas "uma turma péssima", dizias. Não estavas a conseguir "aguentá-los". Disseste que vinham à primeira hora de aula e faltavam à segunda, escreviam mensagens no telemóvel durante as aulas, mentiam dizendo-te que estavam doentes e não podiam fazer o teste...levando-te, com a tua dedicação e ingenuidade de sempre, a fazer um teste especial para eles, enquanto namoravam no pátio da escola... Tudo situações que costumavas saber enfrentar e resolver, sem crise.

Mas entraste em crise. Não conseguias dormir bem, tu que sempre caíste à cama adormecendo de seguida. Tinhas vontade de chorar, tu que estavas sempre bem disposta e animada.

Não sabias, pela primeira vez, o que fazer. Disseste-me que, às vezes, faziam-te perguntas às quais não conseguias dar resposta. Que, nesses momentos, até nem saberias dizer o teu nome, se to preguntassem. Nunca te tinhas sentido assim perturbada nos 35 anos de ensino da disciplina que adoravas e na qual eras exímia professora.

Passava-se alguma coisa de muito sério.

As amigas disseram-te que eram sintomas de depressão. Que devias ver um psiquiatra.

Consultaste um. Tinhas uma depressão, sim. Mas cedo ele conseguiu ver mais do que isso.

Revelavas os primeiros sintomas de falhas graves de memória, não aqueles esquecimentos que todos temos no dia a dia. Uma bateria de testes específicos feitos em Coimbra, não deixou margens para muitas dúvidas.

O médico receitou-te Aricept, dizendo-te que podias vir a ter a doença do teu pai: Alzheimer. Entendeste que estavas a ser medicada com um preventivo. Nunca disseste que tinhas a doença, mas entendias que talvez a pudesses vir a ter, tal como o teu pai, e a mãe dele.

O diagnóstico veio a ser confirmado por neurologistas mas cedo esqueceste até o que te diziam os médicos. Passaste a rotular o teu estado de ' depressãozinha', pondo-lhe um diminutivo, para parecer coisa de menos importância.

Passados 7 anos, ainda acreditas, ou fazes por acreditar, que sofres de depressão, e que Alzheimer é a doença do teu pai.


2 comentários:

Elsa Correia disse...

Olá

Encontrei este blog e esta mensagem chamou-me a atenção. Pelo que percebi já lida com DA há uns anos, espero que a situação esteja estável por agora, é uma dor muito grande...

O meu blog de desabafos www.memoriasdosesquecimentos.blogspot.pt/

Elsa

Elsa Correia disse...

Olá

Encontrei este blog e esta mensagem chamou-me a atenção. Pelo que percebi já lida com DA há uns anos, espero que a situação esteja estável por agora, é uma dor muito grande...

O meu blog de desabafos www.memoriasdosesquecimentos.blogspot.pt/

Elsa